O livro "Por que Emma deseja um amante?" apresenta fotografias de uma tipologia construtiva disseminada em diversas cidades brasileiras, que geralmente se destina às classes mais altas.
Tais edifícios, em sua maioria compostos por elementos em tons de bege, apresentam apliques que remetem a ornamentação clássica, mas definitivamente não o são, à medida que para Vitrúvio (tratadista clássico do sec. I dC) o ornamentum se refere a beleza aderente e teria duas funções, a de fazer luzir a beleza inerente da arquitetura e a de corrigir possíveis imperfeições construtivas.
Diante disso, o que levaria à escolha dessa tipologia, que remete a arquitetura Clássica mas se encontra tão distantes de seus princípios, em cidades brasileiras no século XXI? A construção do livro se inicia buscando elementos que pudessem auxiliar no entendimento dessa questão e finaliza com a pergunta de seu título.
Emma Bovary passou sua vida buscando tornar-se outra mulher através de relacionamentos com diferentes homens, um leitor mais distraído pode percorrer o romance buscando o indivíduo que dará à Emma o que ela procura, assim como podemos flanar pelas cidades absorvendo sua arquitetura, mas afinal, por que Emma deseja um amante1? Ou então por tentamos reproduzir um padrão arquitetônico tão distante de nossas raízes?
1KEHL, Marina Rita. Bovarismo brasileiro: ensaios – 1ed. p. 29. São Paulo: Boitempo, 2018.